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Relações são apenas estratégias e assumir isso não é “ausência de amor”, é liberta-dor

Até quando vamos seguir reproduzindo (e acreditando) nas ideias propagadas pelo amor romântico de que “há pessoas especiais” para nos completar? “Tampas de panela” e “alma gêmeas”? Até quando vamos reproduzir tudo isso sem perceber que ao fazê-lo estamos corroborando violências estruturais, atitudes machistas e mal-estar emocional, físico e psicológico? 

Aprendemos a construir nossas relações afetivas (s3xuais e amizades) na ideia da incondicionalidade do amor. No dar sem receber. Na paixão ou encantamento. A gente “sente” e simplesmente vai, se entrega, se f* e ainda romantiza.  

E mesmo diante de situações e fatos que nos convidam a reavaliar relações, seguimos justificando esta escolha no “amor” que se acredita existir ali. 

Mas que amor é esse que não prioriza os impactos, por tantas vezes negativos, que essas relações exercem sobre nós? Que amor é esse que não prioriza o cuidado de nossas necessidades e o comprometimento com nosso próprio bem-estar? Eu acredito que já passou da hora de reconstruirmos nosso conceito sobre o amor.

A comunicação não violenta (CNV) me ensinou a fazer diversas diferenciações que, de fato, enriqueceram minha vida.

A primeira delas, sem dúvida, foi aprender a diferenciar necessidades de estratégias. Necessidades são aquilo que realmente importa, o que estamos buscando quando fazemos tudo que fazemos. Estratégias são os caminhos que utilizamos, o que fazemos para satisfazer nossas necessidades. 

Assim, aprendi que me relaciono como estratégia para satisfazer necessidades como: afeto, carinho, prazer, companhia, aceitação, pertencimento, apoio, empatia, companhia, dentre outras. Seja um afeto-s3xual ou uma amizade, se eu estou escolhendo essa relação, há necessidades sendo atendidas. 

Algumas pessoas ao se depararem com esse convite da CNV, se assustam. Sentem medo de perder os postos de “pessoas especiais” na vida de outres. Ou de encararem a realidade de que ninguém é tão especial na sua própria vida que não possa ir embora. Mas pessoas definitivamente são estratégias, assim como relacionamentos. Definitivamente estamos em relações porque nos é conveniente. E eu não acredito que assumir isso seja ruim, ao contrário.

Pense um pouco. O que é melhor para você e seu bem-estar: estar numa relação porque sim, porque você simplesmente “ama” esse outro ou porque  sabe exatamente de que maneira aquele outro enriquece sua vida? Será mesmo que valorizamos menos alguém quando compreendemos que essa pessoa é “apenas” uma estratégia para satisfazer nossas necessidades? 

Eu aprendi a valorizar muito mais. 

Hoje, eu sei o que está sendo cuidado e o que não está, em cada uma das minhas relações íntimas. Quero nutrir ainda mais as relações com aqueles que eu chamo de “excelentes estratégias”, os que querem, sabem e podem nutrir a vida que eu quero junto comigo. 

Aprendi a valorizar o que está sendo oferecido em uma relação e a buscar em outras aquilo que não está, em lugar de exigir que uma pessoa específica satisfaça todas as minhas necessidades. Você já parou para perceber, por exemplo, o quão extensa é a lista de necessidades que você espera satisfazer em suas relações afetivo-s3xuais?

Aprendi também a ir embora ou criar espaços em relações em que o que é importante ou mesmo inegociável para mim não encontra o cuidado que preciso. E tudo bem, ninguém tem obrigação de ser estratégia de outra pessoa.

E aprendi a amar o que me nutre e o que nutre um mundo no qual quero viver. Hoje, meu amar existe onde há admiração, onde vejo ações que contribuem para o que eu também quero construir. Neste caminho, as pessoas não se tornaram “menos especiais”, ao contrário, se tornaram mais especiais. Um amor que se constrói sobre consciência e concretude, que me permite construir relações muito mais saudáveis.

Acredito que o “amor” cego, romântico e incondicional, ao contrário, exige que sejamos quem não somos e que nos submetamos (e também exerçamos) as mais diversas violências. Para cuidar de quê, de quem? 

Sobretudo para nós mulheres, cujo aprendizado sociocultural foi a “ausência de necessidades próprias” e a “servidão” às necessidades da família. Até quando, vamos reproduzir algo que apenas nos adoece, enfraquece e mata?

Ter consciência de que temos necessidades e assumir o compromisso de cuidar delas com consciência e responsabilidade é só o primeiro e fundamental passo para construirmos a vida que tanto desejamos. E claro, amores que façam sentido. Ter consciência e assumir nossas relações como estratégias para contribuir na satisfação de nossas necessidades é presença de amor e liberta-dor. 💜

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