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Certificação Internacional em Comunicação Não Violenta – Um relato

Muitos de vocês já sabem que no mês passado estive no México, em um evento que foi o marco da conclusão do meu processo de certificação internacional em Comunicação Não Violenta. Um processo que oficialmente começou no final de 2020, mas extra oficialmente desde que iniciei essa jornada em 2016.

Grupo de formadores e candidatos reunidos em Tepoxtlán – México (03 a 07/02 de 2022)

Mas o que quero contar agora é o que  toda essa jornada significou para mim. 

Quando comecei na CNV, no Brasil pouco se falava sobre a certificação, embora houvesse vários formadores já compartilhando. Dois anos depois, conheci o processo e tentei me registrar, mas a disponibilidade de assessores para o processo era (e continua) bastante limitada. Além disso, as informações que recebia eram confusas, algo do tipo: “Vai fazendo seu processo! Reunindo seus materiais.” Mas como era isso de “ ir fazendo o processo”? Com que apoio? De que jeito? Algumas vezes, pensei em desistir do registro, mas jamais deixei de caminhar como formadora de CNV, e acho que foi simplesmente por aí que fui “fazendo o processo”. Com a pandemia, tive a oportunidade de participar de diversos eventos online de CNV e conhecer vários outros formadores, ao redor do mundo. Formei pares empáticos e comecei uma mentoria com um formador certificado. No final de 2020, finalmente encontrei uma assessora que falava português! Naquele momento o importante para mim era o registro, dar início oficialmente, mas eu não tinha pressa em “finalizar”. Já havia lido no documento oficial que levava de 3 a 5 anos…

Ainda assim, mergulhei de cabeça em minhas práticas, participava de 3 grupos de aprofundamento com outros formadores e seguia como há 5 anos, respirando a CNV. Ou eram os grupos, ou estava escrevendo, compartilhando, trocando empatia. Ao longo de um ano, fui entendendo que efetivamente o processo era um processo de celebração do que eu já estava fazendo e não um processo de avaliação. Ao mesmo tempo, ele foi fundamental para que eu pudesse caminhar do paradigma habitual do “poder sobre” em direção à partilha do poder e, portanto, ganhasse mais poder pessoal. O processo me ajudou a ter mais confiança em mim, no que estou criando, ofertando, construindo. Mais confiante nos meus sonhos. Pra mim foi isso que ele significou. Um ganho de mais autonomia para ser quem sou. E com muita felicidade, meu processo pode ser reconhecido, desde seu princípio e por isso “oficialmente finalizado”, em aproximadamente um ano e meio.

Eu e minha assessora Sylvie Horning, a quem sou muito grata por todas as trocas, apoio e aprendizado.

Ao mesmo tempo, ter passado pelo “processo oficial de certificação” me levou a refletir muito sobre o que ele oportuniza e também sobre algumas de suas limitações (em minha opinião, é claro). 

Vivenciar o processo me fez valorizá-lo como um caminho cuidadoso e possível (não único certamente) para que mais e mais pessoas vivam e compartilhem a CNV na consciência que ela propõe, englobando seus aspectos espirituais e de transformação social e não apenas como uma ferramenta de comunicação como muitos julgam. E eu quero muito ter companhia nesse lugar. Isso me fez decidir seguir minha formação, a partir daqui como assessora, unindo o que mais gosto de fazer, que é acompanhar o desenvolvimento de pessoas, a uma estratégia que ajudará a multiplicar os agentes dessa consciência. 🙃

Por outro lado, me fez valorizar ainda mais a estruturação de percurso CNV, como o que estamos criando na Konekti. Não porque, outra vez, seja a melhor maneira de trilhar a jornada da CNV, mas porque em todos estes anos e antes mesmo, em toda minha trajetória pedagógica (desde aluna a professora universitária) aprendi que nossa educação não estimula para nada a AUTONOMIA. Neste sentido, então, embora o processo de certificação, como eu o conheci, desse jeito “vai lá e faz”tente manter a não violência no próprio processo, ele me parece um tanto “cruel”. Eu já vi muitas pessoas desistirem, acharem que não é para elas ou que é algo distante. E posso reconhecer com clareza meu privilégio neste sentido de ter recebido uma educação que de alguma maneira me permitiu desenvolver a autonomia necessária para chegar onde cheguei, ir lá e fazer, arregaçar as mangas, pedir ajuda, uma certa “cara de pau”.

O que pretendo agora? Unir ambas as coisas, apoiar outras pessoas neste percurso de formação, de maneira estruturada. Para que cada um que se interessar pela CNV possa começar do começo e caminhar até onde quiser, desde o básico até a formação como formador. Cuidado pela consciência em que a vivencio e compartilho com tantos outros e não como uma fórmula mágica para salvar nossas relações 😂. Eu tô animada, tô feliz e tranquila ao mesmo tempo, tomando consciência da responsabilidade que se somou também à minha vida, ao chegar até aqui e deixando “assentar” as ideias sobre como tornar tudo isso possível. 

Gratidão por me ler! Fico feliz e agradecida por ter a sua companhia. Talvez desde o início, talvez há poucos meses ou dias, não importa. Eu estou feliz por tudo isso fazer sentido também para você.

Obrigada e até breve!     

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