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O dilema da honestidade em nossos relacionamentos íntimos

O desejo de SER e o medo da punição.

Constantemente, escuto meus alunos relatarem sua dificuldade em expressar-se de maneira honesta, sobretudo nos seus relacionamentos mais próximos. Por mais que compreendam o valor de expressar o que sentem, desejam e precisam, com clareza e vulnerabilidade, eles experimentam MEDO na hora de fazê-lo. Afinal, nossa vulnerabilidade exige cuidado e acolhimento, e nem sempre, ou na maioria das vezes, não temos confiança de que a pessoa para quem estamos nos expressando irá nos receber, em lugar de reagir ao que estamos compartilhando. Este é um típico cenário dos relacionamentos íntimos em nossa sociedade: ao contrário do que desejamos, nossa honestidade é recebida com desconexão e punição e então, o MEDO que experimentamos de sermos honestos é totalmente justificável.

As relações afetivo-sexuais são um excelente campo para observarmos este clássico fenômeno. Quando um dos parceiros expressa sua honestidade, por exemplo demonstrando interesse em uma atividade que não inclui o outro ou o desejo de se relacionar com uma outra pessoa, e esta verdade não soa agradável para o outro, é comum que este responda com ameaças, vingança ou a maior das punições: o abandono. Por mais que houvesse um pedido anterior por honestidade, quando ela surge, não é valorizada. É assim que ao contrário do que dizemos desejar, fomentamos a falta de honestidade em nossas relações em lugar da sua presença.

Ao mesmo tempo, este cenário nos frustra, porque sabemos que a honestidade em uma relação é fundamental para que possamos SER nós mesmos, na companhia de outras pessoas. Queremos pertencer, ser acolhidos, aceitos e amados. Mas se eu não confiar que na relação existe um espaço seguro para ter tudo isso sendo honesto, há grandes possibilidades de que abra mão da minha experiência de autenticidade para seguir na relação. Por um lado, estarei me protegendo da perda e da punição, mas por outro, estarei abrindo mão de uma parte importante de mim mesmo, minha verdade, em muitos casos minha autonomia e liberdade, e talvez minha própria integridade.

Mas o fato de nossa honestidade não ser bem recebida, justifica que a deixemos de lado?

Para mim, esta pergunta precisa ser respondida, a partir do que queremos nutrir em nossas vidas. Se escolhemos esconder uma parte de nós em nossas relações, além de estarmos reforçando que nossas ações estejam baseadas no medo, validamos muitas das mensagens que recebemos ao longo de nossas vidas e que alimentam a violência em nossas relações e na sociedade: que devemos ser diferentes de quem somos; que devemos nos sentir culpados porque somos responsáveis pelo bem-estar emocional do outro; que não somos suficientes; que quando não fazemos aquilo que o outro (ou a sociedade) julga correto, merecemos punição; etc. Por outro lado, escolher a honestidade faz sentido quando estamos conectados com o que é importante para nós, quando sabemos do que estamos cuidando ao escolhê-la. O peso está em nossos valores e não nas possíveis consequências do que pode acontecer na relação (ou seja, na provável punição). 

Para mim, são escolhas que diferem claramente em relação ao poder pessoal a que podemos aceder para escolher. Infelizmente nossa educação e os sistemas aos quais somos submetidos, nos tiram poder e nos inclinam em direção ao medo, a codependência e a ausência de honestidade. Escolher outro caminho pode não ser fácil, mas é possível. Compreender que as relações são apenas estratégias pode te ajudar a se libertar, assim como aprender que muitas outras formas de se relacionar e relações são possíveis. Mas isso já é papo para outra conversa.     

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