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“Triste agora ou triste para sempre?”

Ontem, vi esse relato publicado em diversos perfis aqui no instagram, e no perfil da Tania Mujica o encontrei com a legenda que dá título a esse texto. Não pude deixar de sentir a alegria compartilhada de ler uma criança defendendo de maneira tão consciente o seu direito de sentir. Ao mesmo tempo, não pude deixar de sentir a tristeza (que me motivou a escrever) de recordar o quanto nós adultos ainda cremos que é possível evitar ou nos livrar de nossos sentimentos e seguimos ensinando esse comportamento tão prejudicial às nossas crianças.

Eu também fui uma criança que escutou que deveria engolir o choro. Tenho uma nítida lembrança do meu pai me perguntando “por que eu estava chorando, se não havia apanhado de ninguém” e do quanto escutar aquilo me dava ainda mais vontade de chorar. 

Claro, meu pai só estava fazendo aquilo que sabia, provavelmente reproduzindo o que havia escutado na sua infância ou até sendo “mais legal”, porque de repente, ele sim havia tido “motivos reais” para chorar, quando era pequeno. 

Mas independente do porquê ele tenha me dito isso umas quantas vezes, parte da minha experiência de trauma tem exatamente a ver com o aprendizado de que eu não deveria sentir o que estava sentindo, que era errado não apenas sentir, mas expressar o que eu sentia. E foi assim que aprendi a sentir medo de sentir.

E qual é o problema desse aprendizado?

Quando recebemos mensagens que invalidam os nossos sentimentos, ou como eu gosto de dizer, que invalidam nossa experiência humana, algo dentro de nós se desconecta. Afinal, estamos mesmo experimentando aqueles sentimentos, não estamos inventando, assim como não estamos forçando o choro. Estamos sentindo e expressando naturalmente essa maravilhosa maneira que nosso corpo encontrou de nos contar que algo muito importante está precisando da nossa atenção e cuidado.

Mas quando escutamos que não deveríamos sentir nada daquilo, sobretudo quando essa mensagem chega dos nossos pais ou de outros adultos em quem confiamos e dos quais recebemos (ou desejamos receber) amor e cuidado, pensamos que nosso corpo deve estar nos enganando. Desconfiamos da experiência real do nosso organismo para nos adaptar ao que “nossos adultos” esperam de nós. Foi assim que eu aprendi que não deveria sentir, porque uma vez mais, colocaria em risco o amor que poderia receber.

Foi assim que eu aprendi a sentir medo de sentir porque pensava que se abrisse espaço para a minha tristeza e para o meu choro, eu poderia ficar sozinha. O curioso de toda essa história, é que embora sentisse muito medo da tristeza, ela nunca me abandonou, porque afinal aquilo que tentamos reprimir em nosso interior, cresce, pedindo para ser visto e escutado. Ah e me tornei uma típica “chorona”, desde muito pequena.

Hoje, valorizo cada lágrima que escorre do meu rosto, porque aprendi que chorar é estar em conexão comigo mesma. Hoje, aprendi não apenas a valorizar o que eu sinto e minhas experiências como ser humana, mas aprendi a escutar as mensagens dos meus sentimentos. Que possamos aprender com a sabedoria dessa criança que defendeu seu direito de sentir e que possamos aprender a escutar nossas crianças que possivelmente estão caladas, dentro de nós, desde a nossa infância.

É assim que eu e você podemos estar tristes agora e não mais seguir tristes para sempre.

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