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Os limites são para nós mesmas

E a importância de não afrouxa-los em nossas relações

“Buscar em nós o inegociável e não ceder nem um milímetro dele” é autocuidado e também responsabilidade.

Aprender a cuidar de nossas necessidades é também se comprometer com elas. É descobrir quem são e como elas precisam do nosso apoio, hoje. Sim, hoje, porque se bem é verdade que há múltiplas estratégias possíveis para satisfazer nossas necessidades, há também algumas estratégias que constantemente podem insatisfazer, ou ameaçar algumas delas, o suficiente para nos gerar um imenso desconforto emocional, ao qual não precisamos nos submeter.

E é exatamente aí que entra o aprendizado de estabelecer, comunicar e, sobretudo, não estirar nossos limites, nas relações. Estabelecer limites é sobre nós, sobre o que não damos conta que aconteça ainda (ou sabe-se lá se isso vai mudar, é importante não se cobrar), sobre esses estímulos que nos geram esse desconforto ou dor com a qual não sabemos e nem precisamos lidar hoje. Tanto faz se o tamanho dessa dor resulta da memória em nossos corpos de experiências passadas (boa parte das vezes) ou da experiência do agora, o importante é o que vive em nós, a partir do que acontece hoje. Nossas respostas emocionais nos contam com clareza até onde podemos ou não ir, portanto, estabelecer limites é sobre fazer um pacto consigo mesma, acolher o que precisa de cuidado hoje, de uma determinada maneira. 

Comunicar essas descobertas nas relações é fundamental para que outro tenha a oportunidade de conhecer de que maneira pode nos apoiar a cuidar do que mais importa para nós e também quais ações ameaçam ou desatendem nossas necessidades. Quando eu estabeleço um limite, eu dou a oportunidade ao outro de escolher se quer se relacionar comigo, a partir desta perspectiva, mas não dito o que o outro pode ou não fazer. Caso o outro faça escolhas diferentes, não queira, não saiba ou não possa agir de acordo com o limite que estabelecemos, somos nós que precisamos escolher. E respeitar um limite é escolher por nós mesmas.

A importância de não estirar os limites que estabelecemos está primeiro em respeitar o acordo de cuidado e compromisso que fizemos com nossas próprias necessidades. E segundo, em comunicar ao outro a coerência de nossas escolhas de cuidado. Se você afrouxar um limite que estabeleceu anteriormente, vai estar comunicando ao outro que não era tão importante assim cuidar das suas necessidades daquela maneira, e uma vez mais (e provavelmente muitas, a partir de então), suas necessidades serão negligenciadas. 

E eu não estou te dizendo tudo isso porque acho que seja fácil, ao contrário. Eu mesma, recentemente, me dei conta de como passei literalmente por cima de alguns limites importantes para mim, quando segui em uma relação afetiva, uns quatro meses a mais do que efetivamente cuidaria de umas quantas das minhas necessidades. Não porque o outro fosse o “mau” da história, afinal, havia honestidade. Mas porque já estava claro naquele momento, que ali, naquela relação não seria possível cuidar dessas minhas necessidades como eu, não apenas gostaria, mas como eu precisava. 

Mas eu insisti em ficar e justifiquei essa decisão às minhas necessidades ameaçadas repetindo a mim mesma que ele queria colaborar, afinal era o que ele dizia todas as vezes que eu comunicava com clareza como eu precisava que ele me ajudasse a cuidar do que era importante para mim. Eu queria acreditar que sua demonstração de “boa vontade” era suficiente, porque claro, havia outras necessidades satisfeitas que pediam pra eu não ir embora da relação. Mas não era, e também não será nos seus relacionamentos. 

Afinal, as ações são a verdadeira comunicação e não importa se o outro quer colaborar, às vezes ele não sabe ou não pode e no final de contas, você é a única responsável por cuidar de suas necessidades. A gente pode, é claro, pedir colaboração do outro, mas não é possível compartilhar essa responsabilidade.

Quando eu escolhi ficar, diante das ações do outro, eu negligenciei muitas das coisas importantes para mim: necessidades como consideração na tomada de decisões e valorização do meu tempo, que em minha experiência de vida me apoiam também a me sentir importante em uma relação. Eu preciso disso para experimentar segurança emocional e há ações dos outros que definitivamente comunicam ao meu sistema interno o contrário. Não permanecer em espaços onde essas ações se apresentam é, portanto, um limite cuidadoso para mim. 

O que posso dizer agora é que venho criando estratégias para me lembrar deste aprendizado, todos os dias, desde então, como compartilhar um pouco dessa experiência com você. 

Me conta como chegou por aí? 😉 

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