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Compreender que toda acusação é um pedido de empatia, não significa que temos que suportá-las

A compreensão empática e o (auto) cuidado, em nossas relações íntimas

Um dos aprendizados fundamentais que a comunicação não violenta (CNV) nos oferece é a consciência de que por trás do que as pessoas fazem e falam existe a tentativa de satisfazer as próprias necessidades. Isso significa que por mais que as ações ou aquilo que o outro diz tenha impacto negativo sobre outras pessoas (ou nós mesmos), há uma motivação humana, genuína por trás dessas falas ou ações.

Por um lado, esse olhar de compreensão e compassivo a que a CNV nos convida é extremamente potente e libertador, não apenas para o outro, mas para nós mesmos. Por exemplo, quando em uma discussão, meu ex companheiro me chamou de “desonesta”, após eu ter agido de uma maneira com a qual ele não estava de acordo, ele estava “apenas” manifestando a insatisfação de suas necessidades de compreensão, apoio e cuidado (afinal, ele havia me pedido para não fazer aquilo, pois contribuiria para que ele se sentisse mais seguro).

Quando sou capaz de olhar a situação por esta perspectiva, primeiro eu humanizo o outro, compreendo suas ações e falas como pedidos de colaboração para satisfação de suas necessidades. Segundo, e exatamente por ter esta compreensão, eu deixo de levar para o pessoal. Sei que, na realidade, ele não me acha “desonesta”, apenas está reagindo à sua própria dor, naquele momento. Como não aprendeu a lidar com suas emoções e se expressar com responsabilidade, ele me acusa, encontra em mim o algoz para sua experiência momentânea.

Sua acusação é na verdade um pedido de empatia, de compreensão, de acolhimento e colaboração. Se sou capaz de oferecer esta compreensão empática ao outro, não precisarei me defender. A crítica não me atinge como antes porque sei que o que o outro diz é sobre ele e EFETIVAMENTE não é sobre mim.

Mas isso significa que tá tudo bem o outro fazer ou dizer o que quiser?

Aí é que mora o perigo… Infelizmente, algumas pessoas confundem esse convite da CNV com permissividade. Com “aceitar” quaisquer ações, críticas e acusações, mesmo que elas nos estimulem dor, sobretudo em relações íntimas.

Olhar o mundo na perspectiva das necessidades, sem dúvida alivia o impacto negativo que as falas ou ações dos outros podem ter sobre nós, mas esse é um exercício de inteligência emocional. E é preciso ir aos poucos.

Essa atitude a que nos convidava Marshall (o criador da CNV) de escutar apenas pedidos de colaboração para satisfazer necessidades, por trás das críticas alheias, não é utópico (eu tenho certeza), mas demanda seu tempo (e apoio) para que possamos integrá-lo em nossas vidas.

Quando estou mediando um conflito, do qual não sou parte envolvida, é fácil escutar as necessidades por trás das acusações mútuas. Já nas relações íntimas, como o exemplo que descrevi, é muito mais desafiante, sobretudo quando as críticas e acusações chegam com uma frequência maior do que a que somos capazes de escutar, sem nos estimular sofrimento.

Assim, é importantíssimo que estejamos atentas ao que cuida ou descuida de nós e estabelecer limites, dentro de nossas relações íntimas. Não é porque sabemos que por trás de uma crítica existe um pedido de satisfação de necessidades, que TEMOS QUE dar conta de recebê-las. Uma coisa é a compreensão do que está acontecendo, outra coisa são os recursos internos que temos ou podemos acessar, no momento que os estímulos chegam.

Neste contexto, a CNV nos convida a reconhecer o que somos capazes de dar conta (a cada momento), nos responsabilizando por nosso próprio processo de desenvolvimento; em lugar de rotular o outro como o “malvado” da história. Mas isso, de jeito nenhum, significa que TEMOS QUE aceitar, permanecer, aguentar, sejam acusações ou quaisquer outros estímulos que gerem impactos negativos em nós. Afinal, a responsabilidade por cuidar da gente, também é nossa e não pode ser terceirizada.

Pratiquemos a compreensão empática com o objetivo de nos libertar do sofrimento gerado quando acreditamos nas críticas. Mas não para “suportar” qualquer coisa que os outros nos digam ou nos submeter a qualquer coisa que os outros façam. Se expresse, coloque limites e se precisar, vá embora para cuidar de você mesma. 

A conexão e cuidado de nossas próprias necessidades vem primeiro e apenas assim, poderemos colaborar na satisfação das necessidades de outras pessoas.

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