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Transformando conflitos com a CNV

Você já parou para pensar no significado dos conflitos

Embora comumente tenhamos medo deles (eu também tenho!), os conflitos são parte da vida, uma parte importante e mesmo imprescindível. “Onde tem duas ou mais pessoas haverá conflito” ou como diz o pesquisador e também facilitador de CNV, Dominic Barter: “o conflito é uma nova informação tentando entrar no sistema”.

Conflitamos porque estamos, a todo momento, tentando cuidar de nossas necessidades, assim como as outras pessoas, mas temos maneiras preferenciais e comumente diferentes de fazer isso. Compartilhamos necessidades, mas não necessariamente estratégias e várias vezes, algumas das estratégias que escolhemos descuidam de outras necessidades, nossas ou das outras pessoas! E o resultado? Conflitos!

Vou dar um exemplo na tentativa de tornar mais compreensível esse papo de necessidades, estratégias e conflitos. Mês passado, voltei à academia na tentativa de cuidar da minha saúde física e mental. Oito meses de trabalho em casa, com no mínimo, 8 horas diárias sentada no computador, me renderam uma dor no ombro que já tomava muito da minha atenção e diminuía consideravelmente o meu meu bem-estar. Eu não podia mais, precisava voltar a me movimentar e a dança é, há muitos anos, minha estratégia favorita para isso. Além de movimento, bem-estar e saúde, ela me traz sensação de liberdade, de vitalidade, me traz uma satisfação imensa, uma alegria enorme, além de muita diversão. Dançar sempre significou para mim aquele momento em que ofereço a mim mesma amor e cuidado (Você faz algo que te oferece todas estas coisas?). Por isso, voltei à academia e voltei a dançar. 

Mas já na primeira aula, eu passei da alegria à frustração, da satisfação à raiva quando uma das alunas tirou a máscaras diversas vezes, para “gritar” nas músicas (ao menos umas 5, antes de eu virar essas chaves :-(). Junto com esses sentimentos, vieram os julgamentos e o CONFLITO estava instalado. Eu tinha a expectativa que todos seguiríamos às recomendações de proteção ao covid para em espaços como esse, tentando cuidar da saúde de todos. Eu queria cuidar de tudo que falei antes, por meio da dança, mas também queria me sentir segura, e para isso gostaria de receber apoio e colaboração dos outros alunos. Ufa! Quanta coisa por trás de um “pequeno” episódio, verdade?

Eu poderia assumir que ela estava errada (e deu muita vontade!) e fazer uma queixa na administração, afinal tal atitude está proibida na academia, ou eu podia tentar me conectar com o desconforto que é usar máscara, durante a atividade física, tentar compreender a atitude da outra aluna, pensar que ela tirou a máscara para “gritar” quando na verdade tentava respirar com mais conforto (palpitando as necessidades dela). Eu mesma, levei 15 dias esperando a entrega de uma máscara própria para prática de esportes, antes de voltar a frequentar a academia. Eu também acho desconfortável o uso da máscara o tempo todo e ao mesmo tempo, busquei e encontrei alternativas para me sentir melhor com ela. Talvez a outra aluna não conheça alternativas, talvez não tenha buscado, talvez não esteja tão preocupada quanto eu. Mas eu posso contar pra ela. Eu posso usar a comunicação para transformar conflitos em ações que colaboram para a vida de todos, a minha, a dela, a da comunidade! 

Ah, você pode estar se perguntando se eu fiz isso, se conversei com ela. A resposta é não. Não fiz no momento porque todo esse exercício que descrevi acima, eu comecei a fazer ainda na aula, mas só concluí em casa. Precisei de um tempo para respirar e me conectar comigo, para em seguida me conectar com as possíveis necessidades da outra aluna. E tô muito bem com isso, com o fato de não ter feito na hora. A minha prática é diária, acompanhada de muita autocompaixão. Antes de dialogar com a outra pessoa, celebro ter transformado o conflito dentro de mim mesma, a partir da conexão com as minhas necessidades e as dela. Transformar um conflito com a CNV para mim é antes de tudo ser capaz de mudar a maneira como olho para a situação, ser capaz de humanizar o outro e sobretudo, ser capaz de “seguir escolhendo” minhas atitudes.

Eu poderia ter reagido a partir da raiva e da frustração e sobretudo dos pensamentos de que ela estava errada. Mas faz algum tempo que escolhi que quero escolher, escolhi não acreditar nesse tipo de pensamento, escolhi enxergar além e me relacionar com seres humanos, de verdade. É nessa jornada que a CNV me apoia: construir a vida que eu de fato QUERO viver, acompanhada de pessoas REAIS. 

O que você quer para a sua vida? 😉

por Thayna Meirelles

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