Reflexões sobre responsabilidade pelo que pensamos e sentimos

Vira e mexe vejo publicações e postagens a respeito da importância de expressarmos o que sentimos em nossas relações. Algumas delas reivindicam o direito nobre de sentir (causa pela qual também milito ativamente) ou sermos “emocionados”. Em outras, celebridades dão entrevistas dizendo que expressar nossos sentimentos em lugar de falar dos outros é a chave para ter “drs” construtivas ou resolver nossos conflitos.

Entretanto, é preciso ter atenção a respeito da expressão de nossos sentimentos em nossas relações, se o que realmente estamos buscando é estabelecer, aprofundar ou cuidar de nossa conexão com pessoas importantes de nossas vidas.

O primeiro ponto importante a aprender é que nem tudo que a gente acha que é sentimento, de fato o é. Se eu não digo ao outro que ele me humilhou, mas digo que me senti humilhada, que diferença faz? Absolutamente nenhuma. Assim, como quando eu expresso que me sinto desprezada, traída ou abandonada por alguém. Em todas estas situações, eu sigo dizendo ao outro que ele é o culpado pela maneira como me sinto e delego responsabilidade sobre meu bem-estar a ele e suas ações. 

Isso não ajuda em nada na conexão e sim, pode “destruir” até mesmo uma conexão real. Humilhada, traída, desprezada e abandonada são apenas exemplos de pensamentos disfarçados de sentimentos. Eu não sinto nenhuma dessas coisas, porque sentimento é sensação corporal e reflexo do que está havendo no meu mundo interno. 

Pensamentos são produto da mente, do nosso aprendizado de que as outras pessoas são más, que querem intencionalmente nos prejudicar, da nossa busca incessante por um vilão responsável por todas as mazelas que enfrentamos. 

O segundo ponto é que mesmo quando expressamos nossos sentimentos reais, falamos sobre eles, o mais importante não é apenas o que estamos dizendo, mas também o que estamos pensando por trás do que dizemos. 

De que adianta eu dizer a meu companheiro que estou me sentindo sozinha nos últimos dias, quando eu acho que a maneira como me sinto é culpa dele? Que ele deveria ter feito outras escolhas para estar mais ao meu lado? 

Facilmente, o outro terá a sensação de que está sendo acusado e provavelmente sentirá culpa ou raiva, partindo para a defesa ou contra ataque (sinais de desconexão). E isso acontece porque assim como nós, as pessoas de nossa vida aprenderam que são responsáveis pelo que os outros sentem, pelo seu bem-estar.Todos carregamos esse peso e não aguentamos mais, estamos exaustos. Nossos copos estão transbordando das cobranças e acusações que recebemos.

Então, quando você pensar em expressar seus sentimentos a alguém com quem você tem conexão “real” e quer efetivamente cuidar dessa conexão, se pergunte primeiro qual é sua intenção ao expressá-los. Você quer cobrar mudança do outro? Acha que essa pessoa está errada e que deveria ser diferente e fazer as coisas do jeito que você gostaria? Ou você está disposto a pedir a colaboração desta pessoa por que ela é alguém importante, que você valoriza e escolheu para estar na sua vida, mas também está disposto a compreendê-la?

De nada vale mudar nossa expressão, se não mudarmos nossa maneira de pensar, em nossas relações. Abrir espaço para nossos sentimentos em nossas vidas é sim importante e eu diria até imprescindível. Mas mais importante é aprender a escutar nossos próprios sentimentos para compreender o que eles querem nos dizer, do que sair por aí expressando-os de qualquer maneira, sem responsabilidade, achando que isso é que salvará as nossas relações.