A chave para a criação de confiança, o fortalecimento de vínculos e a reparação pós conflitos
Precisamos normalizar o fato de que o que fazemos e dizemos pode impactar negativamente as pessoas ao nosso redor, mesmo que não tenhamos essa intenção.
Afinal, a maneira como cada pessoa responde aos estímulos é diferente e diz respeito à história única daquela vida, incluindo suas experiências, recursos e aprendizados. É por este motivo, que algumas de nossas falas e atitudes são gatilhos para algumas pessoas, mas não são para outras.
E por “melhores” que sejam as intenções por trás do que fazemos e dizemos, independente do que justifique nossas falas e ações, nós podemos sim contribuir para o incômodo, a raiva. a tristeza, a angústia, a mágoa e tantos outros desconfortos das outras pessoas.
Isso é o que chamamos de reconhecer-se estímulo (das experiências emocionais dos outros), ainda que não sejamos a causa (que depende da satisfação ou não de necessidades, portanto uma condição do que está acontecendo no mundo interno do outro).
E existem algumas diferenças essenciais entre reconhecer-se estímulo, em lugar de causa:
Como estímulos, sabemos que o que fazemos e dizemos está a serviço da satisfação de nossas próprias necessidades. E conectados a esta intenção, somos capazes de reconhecer o impacto de nossas ações e falas sobre o outro, sem nos sentirmos culpados. A gente não fez o que fez para f* ou magoar o outro, a gente fez o que fez na tentativa de sustentar nossas vidas, ainda que as consequências tenham sido completamente diferentes do que havíamos imaginado (ou intencionado).
E não sentir culpa, em outras palavras, significa não acreditar que somos “as piores pessoas do mundo”, “más”, “inadequadas” ou “insuficientes”, quando o outro experimenta sentimentos desconfortáveis, a partir de nossas falas e ações.
E se não nos sentimos culpados, não temos mais necessidade de justificar nossas falas e ações, na tentativa de que o outro possa reconhecer nossa “boa” intenção e nos liberar dessa culpa.
E então, podemos mudar o foco. Em lugar de chamar a atenção para nós mesmos, podemos fazer companhia para o outro. Podemos compreender e validar a dor que experimenta, a partir do que fizemos. E isso é precisamente o que essa pessoa quer de nós, em momentos como esse.
Não, ela não deseja vingança, ela não deseja que você experimente a mesma dor que ela está experimentando. Ela apenas quer confiar que você também considera o que é importante para ela, que você está disposto a incluir as necessidades dela, no caminhar da relação de vocês.
É por este motivo, que reconhecer o impacto de nossas falas e ações sobre os outros é fundamental para construir relações saudáveis.
Ninguém quer estar ou seguir em uma relação, na qual as próprias necessidades estão sendo negligenciadas. Não quando nos tornamos conscientes de que isso está acontecendo.
Portanto, seja no dia a dia do relacionamento ou nos momentos de conflito, a capacidade de reconhecer o impacto das próprias ações sobre o outro é chave para o fortalecimento de vínculo e o restabelecimento da confiança. Além de imprescindível quando desejamos reparação ou reconciliação pós conflitos.
E por isso também é tão importante aprender a liberar-se da culpa,que aprendemos tão bem a sentir. É ela que nos impede tantas vezes de enxergar e escutar o outro e nos impulsiona a justificar nossas ações ou contra-atacar, durante conversas desafiantes.
E neste movimento, muitos de nós tentam se isentar das responsabilidades pelo que acontece nos vínculos, interpretando de maneira equivocada a premissa: “não somos responsáveis pelos sentimentos dos outros”. Lembre-se que apesar de não ser causa dos sentimentos alheios, o que você diz ou faz contribui para a satisfação ou não das necessidades daqueles com quem você se relaciona. E se você cultivar essas relações é preciso estar atento.