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Nossa “vontade de ajudar” pode tornar os momentos dolorosos dos outros ainda mais desafiantes

Precisamos urgentemente refletir sobre dor emocional e 5uicídi0 de pessoas próximas

Não estou surpresa, mas mais uma vez, estou lamentando profundamente nossa total inabilidade de oferecer apoio adequado a pessoas próximas a nós em estado de sofrimento emocional.

Uma amiga que acaba de perder uma amiga sua para o 5uicídi0, se depara com mensagens de despedida de pessoas em comum, cujos conteúdos demonstram insatisfação e perplexidade por ela ter tomado esta decisão, mesmo diante de tantas ofertas de “apoio”. Uma dessas mensagens diz “pq você não aceitou  minha ajuda? Estendi minhas mãos e você negou”, agora fica a saudade”.

Insatisfeita e perplexa me sinto eu, que mesmo depois da morte, as mensagens que esse ser humano recebe são de crítica e desaprovação, em uma fala que segue autocentrada (fica a saudade em quem?). Assim como posso apostar que eram também as ofertas de apoio desta pessoa que escreveu a mensagem.

E mais, aposto não apenas para ela, mas provavelmente para as ofertas de apoio da maioria das pessoas próximas a esta moça que decidiu findar a dor que sentia, através do suicídio.

Diante da dor do outro, a gente diz querer apoiar, mas na verdade o que parecemos mesmo querer é salvar, resgatar, nos tornarmos mártires da vida do outro. 

Você já parou para pensar que recompensa ou premiação estamos buscando? Quando vamos parar e nos perguntar como as pessoas gostariam de ser ajudadas por nós? Do que elas realmente precisam?

As pessoas não aceitam nossos “apoios” porque o que estamos oferecendo NÃO SERVE para elas. Será tão difícil assim de compreender?

A primeira coisa que uma pessoa em sofrimento emocional precisa não é que você resolva o problema que ela está enfrentando! Ela precisa que você  a escute, que valide o que ela está vivenciando e não que você julgue tudo isso! 

Por que a gente simplesmente não pergunta como podemos ajudar, em lugar de sair oferecendo a “ajuda” que NÓS JULGAMOS melhor para o outro?

Até quando vamos viver e nos relacionar tão preocupados em como a sociedade nos enxerga e tentar provar para o mundo que somos “boas“ pessoas, e nesse intento  seguirmos desconectados do que nós e os outros precisam, em realidade?

Precisamos urgentemente refletir sobre nosso estado de presença e nossa humanidade compartilhada. Precisamos urgentemente voltar a sentir para permitir que as pessoas próximas também possam. Precisamos urgentemente enxergar a nós mesmos para poder enxergar o outro ao nosso lado.

Esta moça que hoje cometeu  suicídio, assim como tantos outros, o fez porque não foi suficientemente vista e ouvida, compreendida e reconhecida.

Que mensagem quer nos dar alguém que finda sua dor, no mês de conscientização sobre o suicídio? As pessoas acabam com a própria vida na última tentativa de que alguém as possam enxergar, em sua dor.

E o que fazemos? O que dizemos? Nos revoltamos e lamentamos a falta que ela vai fazer em NOSSAS VIDAS? Parece que esta moça falhou em seu último intento com seus amigos próximos. Ainda bem que eu e você estamos aqui enxergando-a, neste momento. Eu espero que você possa enxergar as pessoas ao seu redor também.

Precisamos parar com essa besteira de que  falar sobre suicídio estimula suicídio. A gente precisa falar para despertar e aprender de fato como apoiar e como nos relacionar de maneiras mais saudáveis. 

Assim como precisamos parar de acreditar nessa besteira de que “quem quer fazer não avisa”. Todos nós falamos quando estamos em dor emocional, falamos na tentativa de organizar a confusão que sentimos, falamos na busca desse reconhecimento de nossa humanidade, falamos na busca de companhia para a solidão imensa que comumente experimentamos.

Quem não fala é quem cansou de não ser escutado. Quem perdeu as esperanças de que alguém seja capaz de não julgar sua vivência emocional.

E como podemos mais uma vez constatar, esses medos têm fundamento. Esta moça é mais uma que após não encontrar o apoio que precisava em vida, segue não sendo vista, escutada nem compreendida por alguns dos que lhe são mais caros. 

Eu finalizo lamentando muito por ela, por nós e ao mesmo tempo esperançosa que eu e você possamos SER e fazer diferente disso com as pessoas que amamos.

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