Ahhh 2020!!!! Que ano intenso e desafiador! Pra mim, tem sido um ano de muito aprendizado, lutos, reflexões, recomeços e celebrações. Um ano inusitado pra todos nós! Fomos convidados a repensar a vida, as escolhas e nos readaptar a um novo normal.
Em janeiro desse ano me separei e meu ex-marido foi morar em outra cidade. Foi um recomeço desafiador. Toda minha família vive em outro estado e a pressão pra eu voltar para perto deles foi grande.
Eu estava apreensiva em lidar sozinha com as responsabilidades e cuidados com os filhos, com a casa e com a vida. Preocupada em retomar a minha vida profissional, pois desde que tive meu segundo filho, escolhi me dedicar integralmente à maternidade. Ao mesmo tempo eu tinha paz. Isso mesmo! Aprendi com a Comunicação Não Violenta que é possível viver todas essas emoções ao mesmo tempo. Alegrias e tristezas, raiva e compaixão, celebração e luto.
Tenho aprendido que tudo começa em mim, a partir de como eu vivo e interpreto as situações e como escolho agir. Quando mudo minha relação comigo e minhas vozes internas, transformo minha relação com o mundo e sigo com mais leveza.
Ah!! Como foi importante saber tudo isso! Acolher tudo que estava vivo em mim, reconhecer minhas necessidades e, me permitir viver os lutos necessários para abrir espaço interno e escolher como agir.
E veio a pandemia e o mundo parou! Muitas de nossas estratégias preferidas não eram mais possíveis. Viver esse isolamento com uma criança e um adolescente tem sido desafiador, cansativo e ao mesmo tempo gratificante. Um convite diário a exercitar a vulnerabilidade, empatia, compaixão e conexão.
No início, as aulas virtuais eram novidade e despertavam a curiosidade e interesse. Inventamos muitas coisas e fizemos novos acordos pra cuidar da rotina da casa, da saúde e de nosso bem-estar.
Os meses foram passando e chegou o cansaço de viver uma vida de interação virtual, o desânimo em seguir a rotina das aulas online e a frustração de não poder usar algumas de nossas estratégias favoritas para cuidar de muitas de nossas necessidades.
E os conflitos aumentaram. Tudo era motivo para desentendimentos: “de quem era a vez de escolher o programa de tv, de quem era a vez de tomar banho por último, as intermináveis negociações sobre a hora de dormir. Sem falar nos inúmeros momentos desafiadores para lidar com as demandas da rotina de estudos no ambiente virtual.
E tinham os choros de Nolan de saudade da “família na vida normal” (como ele diz) e as reclamações de Noah de não ver sentido nas aulas online e de não poder estar com os amigos.
Muitas vezes, tudo isso é um grande estímulo pra mim. Todo esse caos e essas tretas por “bobagens”. Esses eram os meus julgamentos e, não dar voz a eles, me permitia não reagir de modo automático. Ter consciência de que estamos todos fazendo o melhor que podemos com os recursos que temos, me conecta com nossa humanidade compartilhada.
Para eles, essa é a forma que conseguem expressar as suas necessidades. Nesses momentos, minha estratégia é respirar e acolher meu desconforto para então conseguir ouvir além das palavras e manter a intenção e curiosidade em compreender o que é importante para eles. Para então apoiá-los a se escutarem e se responsabilizar por tudo que sentem e, juntos pensarmos em novas possibilidades.
Quando nos escutamos, conseguimos pensar em estratégias para cuidar do que é importante para nós.
Aprender que não tenho que dar conta de tudo sozinha e que está tudo bem reconhecer minhas necessidades e meus limites e dizer NÃO foi transformador. Sempre fui “a boazinha”, “a prestativa” e não sabia dizer não.
Deixar que eles saibam que seus sentimentos e necessidades estão sendo validados e compreendidos, mesmo quando a resposta a um pedido deles é NÃO, é também uma oportunidade para ensinar sobre respeitarem seus limites e valorizarem o que é importante para eles. E nesses momentos, estou ali, inteira, atenta e com intenção de sustentar a empatia e acolher todo o desconforto, dando espaço para que possam se expressar e sentir.
CNV não é sobre permissividade e falar mansinho. É sobre vulnerabilidade, autorresponsabilidade, autenticidade, empatia, conexão e cooperação. Quando me vulnerabilizo e conto pra eles como me sinto e o que necessito, eles percebem que também têm um espaço seguro para se expressar. Mostro pra eles que tá tudo bem a gente se sentir assim e que isso é sobre nós e o que precisamos e não sobre os outros.
Viver essas escolhas tem sido possível porque tenho rede de APOIO e aprendi a pedir ajuda. Ter um espaço de confiança para desabafar e reabastecer meu potinho de empatia é fundamental para seguir nessa jornada. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Esse será um Natal diferente, em muitos aspectos. Enluto os abraços que não darei, enluto o distanciamento social, a perda de tantas vidas e ao mesmo tempo celebro a vida, os vínculos, o pertencimento e o amor, que ultrapassam as barreiras físicas e tocam a alma. Celebro os recomeços, os aprendizados e as escolhas conscientes e me renovo de esperança, honrando tudo o que foi e sendo grata a tudo o que é!
E pra você? Quais foram seus desafios, aprendizados, lutos e celebrações em 2020? Compartilha com a gente.
por Marci Sousa