Reflexões sobre o medo da desaprovação e a construção de uma vida mais autêntica
Que a gente se importa com o que os outros pensam de nós é um fato, não adianta mesmo negar. Fomos doutrinados a nos relacionar assim, com medo das consequências, da punição por desagradar. A partir daí, moldamos nossas atitudes e comportamentos e fazemos várias escolhas (que não gostaríamos) ao longo da vida.
Entretanto, ter essa consciência e querer simplesmente mudar e não mais se importar não costuma ser o suficiente. Então, porque insistimos nesses conselhos clichês do tipo: “você não deveria se importar”, “eles não pagam suas contas (e às vezes até pagam)”? Eu passei a minha vida inteira escutando esse tipo de coisa e nunca adiantou nada.
E não se engane. Assim como você eu também gostaria que fosse assim de fácil: “não quero me importar, então já não me importo”. Esses discursos motivacionais, muitas vezes performados por celebridades que insistem em nos dizer que precisamos enfrentar as críticas e deixar de permitir que os outros escolham por nós.
Ok, eu posso reconhecer a boa intenção por trás deles. E reconheço que eles podem até nos dar uma ajudinha momentânea, aquela sensação de que somos poderosos e que enfim podemos construir a vida que queremos, até voltarmos a sentir medo e passarmos a nos submeter novamente às demandas sociais.
Ou seja, esses discursos não nos ajudam a efetivamente transformar nossas vidas e nos deslocar do espaço onde nossas escolhas são guiadas pela aprovação do outro para o espaço em que nossas escolhas são guiadas pelo que realmente importa para nós.
E quem é que em sã consciência não quer se libertar das amarras sociais e viver uma vida mais plena e autêntica? Eu sempre quis e aposto que você também. Mas nesses casos, dificilmente “querer é poder”.
Porque vivemos em uma sociedade onde sim seremos punidos por nossas atitudes. Pessoas irão embora, empregos serão perdidos, seremos expulsos de casa, nos olharão torto na rua e nos dirão todo tipo de coisa porque decidimos por essa tal vida mais autêntica. Há, portanto, um preço a se pagar e cada um sabe pra que lado a balança pesa. O aprendizado de “agirmos preocupados com o que os outros pensam” vem no mesmo combo de “se você não se adequar, será punido”. Nossa sociedade reafirma os dois, a todo momento e nós sentimos medo.
Numa camada mais profunda, o que em nós fica abalado quando pessoas vão embora, empregos são perdidos, somos mal vistos e criticados? AMOR, ACEITAÇÃO, AFETO, PERTENCIMENTO, SUSTENTABILIDADE, SOBREVIVÊNCIA, RECONHECIMENTO, (você pode completar essa lista)… Então não, não é fácil deixar de se importar com o que os outros pensam só querendo, só escutando conselhos de uma celebridade que tem a vida que gostaríamos de ter.
Você é o único que sabe quais são suas fontes de amor, aceitação, afeto, pertencimento, sobrevivência… e apenas você pode conectar com essas necessidades e se perguntar de que maneira você pode supri-las, sem esse contexto ou essas pessoas que você tem tanto medo de perder. Essa consciência de ações e autocuidado, que envolve clareza a respeito das consequências, é que pode nos apoiar a escolher para além do medo, em nosso próprio ritmo. E não a simples ideia de “chutar a porta” do que os outros pensam, quando na verdade não possamos sustentar o peso dessa porta quando ela cair sobre nós.
Assim, será possível não se importar com o que os “outros” pensam de nós, se e quando formos capazes de bancar o que é importante para nós, sem esses mesmos “outros”.